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Entrevista no 5 para a meia noite @ Luís Alberto Gonçalves Bento

A minha tia, da parte da minha mãe, sempre me gabou o jeito para ler e escrever, pois, desde miúdo de fralda, que lia rótulos de garrafões de vinho daqueles de plástico branco, porque o meu pai era míope, bulas de medicamento, porque a minha mãe tomava comprimidos "Saridon" para as dores de cabeça e instruções de pensos higiénicos e pílulas, porque a minha irmã mais velha já se encontrava às escondidas com um mancebo no bairro de Campolide, mas tinha dificuldade em ler duas linhas do tamanho de comboio regional e até chegou a apanhar umas pústulas na boca por excesso de lavagem com vinagre para tirar o gosto... Cheguei a enviar os meus textos para o 5 para a Meia-noite, para a revista GERADOR e para a editora LEYA. A Leya respondeu-me ao fim de 15 dias a dizer que eu escrevia muito bem, mas que não arriscava num desconhecido, que fosse primeiro escrever colunas na imprensa diária, que amadurecesse um romance ou fosse escrever para a GERADOR ou me propusesse para uma entrevista com a Filomena Cautela que, nas horas vagas em que anda atrás da Madonna, que não lhe liga pevas, pode ter a sorte de ela reparar em si, além de que ela é gira como o caraças, indivíduo de que toda a gente fala, mas ninguém conhece. E eu escrevi para a Gerador, mas eles disseram que tinham que reequacionar novas propostas, eufemismo mais-que-perfeito para "vai morrer longe". De caminho, ainda me perguntaram se eu queria ser sócio, ora eu apenas pago cotas na Associação "Sobral de Monte Agraço já tem parque infantil" e não posso ter mais encargos porque estou no chômage, como diz o meu padrinho que Deus tenha lá no céu que foi emigrante em Paris de França. Deixei de teimar em publicar os textos na revista que só vejo à venda naquele contentor manhoso à entrada do LX Factory, pois que já fui às melhores casas da especialidade em Portugal e, inclusive, na FNAC disseram-me que gerador não era uma revista, mas um artefacto mecânico para produzir energia, então em que ficamos? Agora decidi aceitar o conselho da Leya e candidatar-me a cinco minutos de fama "à la minute", com todas as cautelas, junto da Filomena. Ganhei os jogos florais de uma autarquia com uma Ode ao Mira, que é o meu tio com nome de rio, mas vocês já entrevistaram o Laborinho Lúcio que tem nome de peixe e eu não sabia que os peixes escreviam livros, por isso também gostava de ir aí dizer umas coisas sobre a Ana Bola, Padre António Vieira, buraco do Ozono e a cintura de Van Hallen. Tenho um blog sobre literatura, pitta-shoarma e batatas fritas, sou iconoclasta, manco um bocadinho da perna esquerda, tenho a tensão alta controlada e vivo do subsídio que está a acabar. 


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