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Ficção de classes Sociais @ Rui Franco

“Em Setembro de 1908 nasce, pela mão de Alfredo da Silva, a primeira unidade fabril do Barreiro.

Depois, a construção de novas unidades sucedem-se num ritmo sempre crescente, criando-se a OBRA que, no seu conjunto, constituiu o maior aglomerado industrial do país.

Riqueza imensa que um homem criou para bem do seu país que definhava pelo seu baixo índice industrial.

O nome CUF aparece, com um verdadeiro baluarte da indústria, e é no Barreiro que Alfredo da Silva instala a maior parte das suas fábricas”. 1

 

“O paternalismo social, característico das Empresas desta época, proporciona a criação da obra de defesa social com, bairros operários, refeitório, escola primária, infantário, colónia de férias, grupo desportivo, cinema, auxilio escolar, e de corporação económica com a criação de, despensa, padaria e adiantamento de salários.

Ter um emprego fixo numa das empresas da CUF, era por isso, um objetivo de vida para boa parte do operariado da época.

Contudo, o Paternalismo Social era amável e generoso para os que aceitavam, disciplinadamente, a ordem social que este pressupunha e, de alguma forma, impunha.

Era preciso aceitar, sem protesto, respirar diariamente o ar pestilento e envenenado com que as indústrias de química poluíam o ambiente da cidade.  Era preciso aceitar, os baixos salários, os intensos ritmos de trabalho que eram impostos, a bufaria e vigilância policial constantes no cotidiano da vida operária da fábrica e da vila.

E era, sobretudo, preciso aceitar a proibição da greve e das liberdades sindicais elementares.

Quem se portasse bem, acedia às benesses da família “Cufista”, como era chamada na altura.

 

Assim, o Estado Novo, através do condicionamento industrial, da proibição dos sindicatos livres, da repressão policial de todo e qualquer protesto, dos baixos salários que isso permitia, foram um elemento absolutamente fundamental para a prosperidade do grupo CUF sob o comando de Alfredo da Silva.

Este “modelo” de Paternalismo Social virou violência repressiva quando os trabalhadores resolveram romper o consenso e lutar pela defesa dos seus direitos e interesses. Em suma, o ciclo de Alfredo da Silva foi, também, o ciclo da confrontação social na CUF.

Em Maio de 1919 começa a greve mais importante deste período, 44 dias de greve, é declarado o estado de sítio e a resposta da CUF é violenta, fábricas encerradas, corte de salários, despedimentos grevistas, prisão de ativistas, associação de classe encerrada pela polícia.

A repressão foi séria, só 24 anos depois, a CUF voltaria a parar, motivada pela organização clandestina do Partido Comunista, da época, que paulatinamente substituiu-se à tradição anarquista e libertária na condução das lutas operárias, tendo sido esta fação partidária, responsável por organizar aquela que foi, a greve, historicamente mais importante no Barreiro em 1943. Todos os trabalhadores foram despedidos.

Nunca mais se voltaria a fazer greve, até à queda do regime, em 1974”. 2

 

“O Projeto apresentado, sem prejuízo dos juízos de valor baseou-se nestas tensões existentes, entre, classe operária e a CUF, que de uma forma simbólica e fictícia, pretendo dar a conhecer ao observador.”

 

Notas:

[1]   Texto baseado na referência bibliográfica comemorativa dos 50 anos da CUF no Barreiro;

[2]Texto baseado na reportagem do Historiador Fernando Rosas apresentado no programa “história a história”, na RTP 2, em 06 de Novembro de 2016.

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