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A Pintura morreu. Uma, outra e mais uma vez, na História da Arte. A Pintura ressuscitou. A Pintura nunca morreu. Reconheceu os desafios e construiu a partir daí, tornando-se ainda mais viável após a arte conceitual, como uma opção para dar forma à ideia e, portanto, para diferenciá-la de outras possibilidades. Na série Eu tiro – Reflexão superficial sobre o tempo, a pintura procura ser reflexiva e crítica, organizada em capítulos, como um livro, com uma narrativa temporal, que reflecte ainda sobre o próprio acto de pintar e sobre a sua representação.  As obras têm por base uma escultura do pé do próprio autor, procurando reflectir sobre os efeitos da passagem do tempo. A peça surge assim física e pictoricamente representada nos três trípticos, em três momentos da sua existência: o quebrar do molde, o quebrar acidental durante um transporte e as histórias paralelas. 

O tempo que origina o fragmento do molde é premeditado.

O tempo que origina o fragmento de mármore é acidental.

O tempo entre acrescenta outras histórias.

Um pouco à semelhança do exercício da cadeira de Joseph Kosuth, a escultura surge de três formas: o objecto real, a sua representação figurativa, a sua representação abstracta e ainda a sua reprodução escultórica. Para o espectador há também três tempos. Primeiro contempla-se: a paisagem, o céu, as árvores, o horizonte. Depois estranha-se. Algo se contradiz e provoca desconforto. A figuração e a abstracção de um mesmo objecto, numa oposição entre uma representação realista, de tratamento clássico na luz e na sombra, e a sua abstracção geométrica, rigorosa e rígida, causa uma certa estranheza magritteana. Por fim, reflecte-se.

Sara Pinheiro

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