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O conceito não é novo, Gaspar Noé já o fez com Enter the Void – Viagem Alucinante e Giulio De Santi com Hotel Inferno, em 1947 O Prisioneiro do Passado tentou o feito com Humphrey Bogart, mas é a primeira vez que alguém planeia a coisa sem pretensões artísticas e com a noção de que não basta ter umagimmick.


Hardcore é um filme de acção na primeira pessoa, mas acima de tudo é uma homenagem a videojogos como Half-Life ou Counter Strike. Vemos tudo pelos olhos da personagem principal, neste caso Henry, que acorda num laboratório com amnésia e um par de membros a menos, junto a ele temos uma cientista que diz ser a sua mulher e que prontamente lhe dá as “peças” em falta. Infelizmente, é quando lhe está prestes a ser instalado um módulo de fala, que um vilão com poderes telecinéticos entra pelo laboratório adentro obrigando-o a fugir e a deixar a sua amada para trás. Resta-lhe confiar numa personagem misteriosa chamada Jimmy, que para além de ser uma espécie de tutorial para o seu novo corpo pode também guardar alguns segredos sobre o passado que esqueceu.

Antes de mais, sim, há um período de habituação aos movimentos repentinos e à maneira como devemos esperar a acção, afinal de contas só há uma câmara, mas isso não impede que a acção seja muito bem construída. O filme tem pouco mais de hora e meia, a dose certa para uma experiência deste género, mas desenganem-se os que acham que basta haver explosões e boas coreografias de luta para o filme resultar, o engenho aqui reside também na trama que apesar de simples dá as migalhas necessárias para irmos aprendendo à medida que vemos o mundo pelos olhos de Henry. Outro factor importante que torna esta viagem tão divertida como descomprometida é o filme não se levar demasiado a sério e o humor ser uma constante, jogando com as expectativas do espectador e do género. A violência é outro espelho desse descomprometimento, não dá tréguas e há já muito tempo que não via tanto à vontade numa distribuição em cinema, desde o genérico inicial (talvez um dos mais criativos dos últimos tempos) que o filme grita «sabias que era para maiores de 18 anos, agora aguenta».


Apesar do projecto ter saído da cabeça fresca de Ilya Naishuller, um estreante no campo das longas-metragens, foi o envolvimento de Sharlto Copley que fez com que o projecto andasse para a frente. O actor de District 9 e Elysium, para além de fazer um papel memorável do qual não posso falar muito, vestiu a pele de produtor depois de ter assistido a um videoclip do realizador russo. Suspeito que a pequena participação de Tim Roth também terá surgido depois do filme estar terminado e do actor ter demonstrado vontade de fazer parte do mesmo.

Apesar de tudo não é um filme para todos, é demasiado estilizado para ser consensual, mas todos os fãs de videojogos vão gostar das referências espalhadas um pouco por todo o lado, os fãs de acção over the top vão ficar deliciados e os apreciadores de gore vão ficar bem surpreendidos com a violência que, na verdade, é quase cartoonesca. Hardcore é um filme gimmick mas não se fia só nisso e faz com que o produto final resulte.

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Recomenda as competências de José Nuno Fragoso Santiago

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Crítica ao filme