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Review - Primavera Sound 2015 @ Rita Salvado


Nos Primavera Sound 2015: Quando a música chega a todos!

POR A


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É junto ao mar que o autocarro nos deixa depois de uma viagem de cerca de 30 minutos. Chegámos ao Parque da Cidade no Porto. Ouve-se um sound check de fundo, estamos no Nos Primavera Sound 2015.


Com um cartaz ecléctico, três dias de festival levam à cidade invicta o leque mais variado de pessoas. Cruzamo-nos com pessoas de todas as nacionalidades, com pais (recentes) que levam os seus pequenos rebentos “à festa da música”, com grupos de jovens e de outros não tão jovens. Acima de tudo sente-se uma hospitalidade e entreajuda, típica do nosso país e daquela região em particular, que contagia as gentes que ali estão. Afinal, vimos todos ao mesmo.


Dia 1:

O primeiro dia começa verdadeiramente com Patti Smith, uma senhora do rock. O concerto avisava-se sentado, as cadeiras estavam alinhadas, anunciado como um espectáculo acústico no pequeno palco Pitchfork, mas a ordem pouco durou. Patti, a avó, como a própria fez questão de referir, é acarinhada pelo público e logo este se levantou como a provar-lhe isso mesmo. A mesma voz, a mesma presença em palco. Uma demonstração viva que a idade é apenas um número e a música é intemporal. Patti Smith iria tocar novamente no dia seguinte, desta no palco principal. O mesmo público, a mesma energia, muitas das mesmas canções. A prova que em aposta ganha não se mexe.

Quando o concerto acaba vai-se em demandada para o palco Super Bock (ou não se estivesse no norte). É a vez de FKA twigs. Com um estilo muito próprio onde mistura vários elementos electrónicos com a sua voz quase angelical, a inglesa apresentou um espectáculo articulado, teatral apenas com a sua silhueta por entre as luzes. A provar que tem um público fiel em Portugal, as primeiras filas entoavam as suas canções e ela agradecia num jeito quase infantil contrastando com a actuação sensual.

Lado a lado estão os principais palcos, Super Bock e Nos e estes vão intercalando os concertos. Seguia-se Interpol. A banda de Paul Banks, cumpriu o prometido. Mesmo um pouco desafinado e acompanhado por um frio nortenho o concerto com uma setlist interessante foi em muito superior à experiência do ano passado no Nos Alive.

Por fim cheganos mais uma vez, Caribou. É certo e sabido que Portugal adora o canadiano e o canadiano adora Portugal. A electrónica psicadélica apresentada é a forma de acabar a noite.

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Dia 2:

No segundo dia há mais um palco, é a abertura do palco ATP. Mais um ponto no meio da correria entre espectáculos. Com um novo concerto da adorável Patti Smith, é quando esta acaba que as águas se separam. Electric Wizard tocam ao mesmo tempo de The Replacements. Doom metal vs Punk Rock. Neste que foi talvez o dia de maior divisão de géneros musicais. Quando ambos terminaram, o indie pop de Belle & Sebastian competiu com o experimentalismo de Spiritualized.

Ouve quem chorasse em Spiritualized tal a entrega dos ingleses em concerto. Já Belle & Sebastian foi alegre e divertido, como a música dos próprios. Seguiram-se os londrinos Jungle, como no último acto de rebeldia da noite. E antes de dar por encerrada a noite, ouve ainda tempo para parar pelo Pitchfork e ouvir Movement. Num registo demasiado calmo para as horas da noite (iniciaram o concerto às 03h00) o sentimento presente era o de um dia bem passado.


Dia 3:

Quem abre o último dia de festival é Manel Cruz, um dos três nomes portugueses no cartaz. A jogar em casa, e a misturar um reportório de Supernada e Pluto é vitória para o sanjoanense. Uma mostra que não é preciso grande aparato para se dar um bom concerto e que não sendo para todos, é possível fazer-se boa música em português com sotaque do norte.

Como da noite para o dia, e muito ao estilo americano os californianos Foxygen substituem o palco. Excêntricos e com todo um espectáculo, no sentido teatral da palavra, ao seu estilo hollywoodesco põem a plateia a dançar divertindo-nos com as diversas mudas de guarda-roupa de Sam France e os diálogos estudados entre a banda.

Da velha guarda, os britânicos Ride chegam ao Porto, clássico Rock & Roll. Fortes, pujantes e confiantes mostram que o Rock não é para meninos e que conseguem por um público cansado a saltar por eles.

Cronometrado, e não ao acaso, ao acabar o concerto de Ride, The New Pornographers dão início no ATP. O indie Rock canadiano acalma um pouco as lidas, sem perder a qualidade em cima de palco. Mais alegre e jovial, o concerto é visto por uma plateia dividida entre a dança energética e o conforto da relva. Afinal estamos a chegar ao fim de três de música sem parar.

Porque a música ao vivo não tem de ser complicada, antes pelo contrário, tem de ser entregue com alma e coração. Uma entrega simples e dedicada ganha em muito a grandes produções mecânicas de tão planeadas ao pormenor. O público tem o poder de fazer um concerto ser bom ou mau, e é essa interacção conjunta que nos une como um todo e faz com que se torne um vício para muitos. Mas para que as bandas tenham a sua liberdade em cima de palco, a organização tem de funcionar. Garantir que que tudo corra bem, e especialmente em locais com tanta afluência (a organização aponta para 70 mil pessoas) tem de existir um bom planeamento prévio. E no Nos Primavera Sound assim o foi. Extremamente bem organizado, cumprindo horários e mostrando a preocupação de não se sobrepor som, o Primavera é uma pagina certa no guia de “como fazer um festival de verão”. Dos transportes disponibilizados, às infra-estruturas, tudo correu como previsto, não ouve atrasos, não ouve confusão, apenas uma saudade inerente quando se passa a porta do recinto para o regresso à rotina.

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Rita Salvado


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