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Texto de Nádia Rodrigues Ribeiro

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Um álbum é sempre um lugar de memórias. Nele coabitam histórias de alegrias, tristezas, sonhos, amizades, amores, desamores, ódios, segredos, verdades, mentiras… histórias que (re)velam aquilo que foi, o que não foi e o que poderia ter sido. A familiaridade de um álbum unifica, identifica, gera herança.

Christopher Marques parte do seu arquivo fotográfico familiar para a construção de uma narrativa. Arquivo rico em imagens que testemunham o contexto socioeconómico português da década de 60 – a emigração. Christopher vê a sua história dividida entre dois pólos: França, lugar onde nasce, e Portugal, lugar das suas origens e onde, posteriormente, é "obrigado" a viver com o regresso dos seus familiares. É nesta dualidade que terá de construir a sua casa (identidade), uma casa que vagueia entre as raízes que construiu e as que herdou.

O Álbum surge como resposta a essa fragmentação do passado e como tentativa de estabelecer um elo de ligação com as memórias. O contacto com essas imagens fez despoletar em Marques a necessidade duma reconstrução da sua própria identidade. Uma identidade que se constrói através de situações, lugares, personagens e que se desconstrói pela anulação dos rostos. Surge assim um álbum sem rostos, com um rosto universal (um não rosto), maioritariamente branco que metaforicamente é o lugar do vazio onde é possível imprimir uma nova história.

Este acto duma quase quebra da familiaridade dos rostos demonstra a necessidade de apagar determinadas memórias (ou pelo menos essas imagens). Esses rostos farão sempre parte da memória do autor (ainda que possa haver uma tentativa de esquecimento), da sua história, mas não se individualizam.

O afastamento desse lado genético ou semelhante faz com que se crie um rosto. Um rosto que é uma narrativa descoberta e escolhida pelo próprio autor, talvez esses não rostos sejam eles também auto-retratos de Christopher Marques. A descaracterização do génesis, o branco – esse grau zero e lugar de origem, fazem do espectador parte integrante d' O Álbum. Tornamo-nos intervenientes perante o branco que se transforma num espelho, vemos também reflectida a nossa história, as nossas memórias. Todos partilhamos momentos comuns – a família.

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