Sinópse da Exposição
Da frente ocidental à vastidão russa, no Cáucaso, nos Alpes, em África, no Médio Oriente, no Atlântico, no Índico e Pacífico, passando pela mobilização de gentes da Nova Zelândia e da Austrália (que conheceram o Egipto e os desertos da Palestina), de indianos, zouaves e vietnamitas, que habitaram as trincheiras do Norte da França ao lado dos seus senhores coloniais, a Primeira Guerra Mundial não se limitou, somente, a transfigurar as geografias de então, como foi, também, um trágico e inesperado pretexto para uma Babel que levou à interação de culturas e pessoas que noutro contexto, dificilmente se cruzariam.
Por meio de uma mobilização sem precedentes, chamaram-se civis para preencher as fileiras mas, também, para trabalharem em fábricas, estaleiros e enfermarias. Neste contexto de deslocamento e adaptação, sobressai a participação da mulher, a qual ocupou, pela primeira vez, postos de trabalho até então exclusivos do universo masculino, tornando-se condutoras de transportes públicos, operárias, secretárias e socorristas.
Através de todas estas mudanças - mas, sobretudo, pelo prolongamento da guerra, que complicou exponencialmente as já difíceis condições do quotidiano e a escassez de bens essenciais - a par da exigência de uma maior liberdade e autonomia políticas de diferentes grupos étnicos, que se traduziram em greves e revoluções da Irlanda à Rússia - a velha ordem social, que tinha prevalecido durante grande parte do século XIX, foi sendo decisivamente desmantelada.
Passado um século sobre alguns destes acontecimentos, a exposição evoca assim o principal elemento do conflito, as massas de homens e mulheres que directa ou indirectamente estiveram envolvidos na Primeira Guerra Mundial, são eles que nos interessam hoje referir enquanto actores fundamentais da nossa História mais recente.
O produto final pretende contar uma história na tradição gráfica da tapeçaria normanda de Bayeux. Esta quer ir além da ilustração formal da narrativa das grandes batalhas e dos seus generais pois estes constituem somente a ponta do iceberg.
As figuras presentes contam a experiência da mobilização, o crescente desencanto por uma guerra que se pensou ser rápida e que foi-se desumanizando por via das novas tecnologias que a industrializaram. É um conto que transcende a trincheira e vai à fábrica e à frente doméstica, é a história do Homem comum e da sua importância em modelar e revolucionar mesmo quando a premissa é aterradora.
Delfim Ruas - 23/08/2016
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