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No meu dia a dia é normal ouvir: “Você tem pelos nas axilas? Não? Então não é feminista”; “Você feminista? Te vi ontem limpando a casa!”; “Oua, ser feminista pra quê? Pra mostrar os peitos na rua?”. Ou a melhor: você é uma feminista de Taubaté!


Parece engraçado, mas não é! Chamar uma pessoa de feminista ou se posicionar como feminista é malvisto. Primeiro porque as pessoas não entendem o que é o termo, o que é ser feminista e qual o cerne da causa. Segundo porque a sociedade estereotipou o feminismo como mulheres que querem vingança, que são violentas, intolerantes, hipócritas, que odeiam homens e que não perdem a oportunidade de mostrar o corpo em público.


Por isso é comum várias pessoas acharem ruim, não se pronunciarem ou usar o feminismo como um insulto ou desacato. Eu, por outro lado, tenho orgulho de ser feminista. Para mim é elogio!

E nem sempre eu fui feminista. A gente não nasce feminista, a gente se torna. Imagina eu, nascida em uma cidade do interior, super conservadora, patriarcal e preconceituosa que viveu 18 anos vendo de perto um relacionamento abusivo dentro de casa.


Era para eu ter sido criada para ser do lar e uma esposa perfeita, mas como minha mãe sempre teve que trabalhar a fim de ajudar a pagar as contas da casa, houve um “desvio” e fui criada para sobreviver.


Minha mãe nunca sentou comigo e disse: estude. Ela não precisou, eu já tinha isso em mente desde pequena. Eu sabia que só estudando eu poderia ser independente e ser uma “mulher de sucesso”. Minha mãe nunca disse: você tem que aprender a cozinhar. Ela não precisou, ela sabia que eu tenho uma aversão natural a cozinha. Minha mãe nunca disse: não tenha um marido como seu pai. Ela não precisou, porque eu vivi vários momentos com ela e prometi a mim mesma que fugiria de relacionamentos como aquele, que eu não deixaria ser submissa por um homem, pelo simples fato dele ser homem e eu uma mulher.


Viu que para mim o feminismo se apresentou de forma torta?! É tanto uma questão pessoal que eu não sabia o que era ser feminista e que eu era feminista até entrar na faculdade e ter acesso a causa. E só de uns anos para cá que eu me intitulo feminista, pelo simples fato de ser fruto de uma sociedade machista e estar sempre em aprendizado. Comecei não só mudando meu discurso, mas minhas ações também, por isso eu não preciso deixar pelos nas axilas para ser uma feminista.


Como várias aglomerações para um fim comum, há vários estilos de pessoas dentro. Por exemplo um show, tem pessoas que vão a caráter, tem outras que vão com a camiseta da banda e tem outras que preferem ir com a sua melhor roupa. Entretanto, todas estão ali porque gostam da banda. É assim no feminismo! Algumas mulheres vão para as ruas e outras inspiram outras mulheres em faculdades, nos grupos de amigos e dentro de casa. Não é uma competição, não é uma hierarquia. Nós somos todas feministas.


Como diz Chimamanda Ngozi Adichie, no livro Para educar crianças feministas, para ser feminista você deve ter em mente duas premissas: a primeira é a convicção firme e inabalável de que nós temos valor. Nós temos igualmente valor. Eu tenho valor. Não é uma questão de “se” e nem de “enquanto”. Nós temos igualmente valor e ponto final. A segunda premissa é uma pergunta: se invertermos o homem com a mulher em diversas situações, o resultado seria mesmo? Por exemplo, em uma traição, a mulher pode perdoar o homem, mas o homem pode perdoar a mulher?


Assim, a dica é torne-se uma feminista! Se empodere, mulher! A única diferença entre nós e os homens são nossos cromossomos, nós temos dois X e eles um X e um Y. Não deixe o patriarcado, a sociedade machista e as raízes históricas ofuscar seu brilho, tirar suas oportunidades. Não se intitule como esposa e mulher quando você assume um “cargo masculino”, você não está ali porque é mulher, mãe, ou “mulher macho”; você está ali porque você merece, porque você tem condições de desenvolver aquilo e que aquilo não é definido por gênero ou sexo.


Além disso, crie suas filhas como feministas. Ensine-as a não abaixarem a cabeça. Deixe-as viver e despertar suas melhores características e personalidades naturalmente. Não imponha coisas de menino e coisas de menina. Não as crie como o sexo frágil e como princesas. Não as ensine a serem donas de casa se você não irá ensinar seus filhos a serem também.


Crie suas filhas, sobrinhas, primas e irmãs para serem feministas e lutarem pela igualdade de gênero, pela igualdade de salários, pela igualdade de respeito e pela igualdade de ir e vir sem ser vista como um objeto. Crie-as para serem completas!


Por outro lado, crie seus filhos para respeitarem as mulheres. Não dando flores e abrindo a porta do carro, mas como iguais. Crie-os para entender que a masculinidade não tem nada a ver com violência, ser garanhão e serem machos insensíveis. Ensine-os que a masculinidade não é a aversão a tudo que é feminino, que homens sensíveis ainda são homens, que homens que choram ainda são homens e que homens que fazem o trabalho de casa, que cuidam dos filhos e que fazem o almoço não merecem aplausos. Eles só estão fazendo o que é necessário para manter a organização de uma casa como qualquer um.


Ensine seus filhos a limpar, a organizar e a fazer sua própria comida. Isso é uma forma de sobrevivência e não coisa de menina. Ensine-os que a moça também pode beijar quem e quantos ela quiser. Que ela pode beijar 5 caras como ele beija 5 moças sem que ele a chame de puta. Ensine-os que as mulheres não são propriedades masculinas, que eles não devem nos matar por causa de um fim de um relacionamento e que quando dizemos não é não. Não é um joguinho de paquera. Ensine-os a respeitarem nossos corpos, nossas atitudes, nossas roupas e nosso direito de ir e vir.


Em tese, ensine seus filhos e todos os homens da sua família a respeitarem. Não só nós mulheres, mas todos os gêneros. Eles não são os alfas. Eles não são os melhores. Eles não podem tudo. Eles não podem nos mandar. Eles não podem decidir pelo nosso corpo, sendo eles maridos, namorados, religiosos ou políticos.


Então, não me julgue por ser feminista. Não me julgue por querer mudar o meu ambiente. Não pense que você está me atingindo dizendo que eu sou café com leite ou de Taubaté. Eu sou feminista e é isso que importa. Eu vou lutar, sendo indo às ruas, sendo mostrando meu corpo ou simplesmente escrevendo esse texto.


Mulheres com poder incomodam muito! Principalmente homens com masculinidade sem noção e orgulho machista. Logo, se o meu poder, as minhas atitudes, os meus pensamentos e as minhas opiniões te incomodam, acostume-se com eles, pois lugar de mulher é onde ela quiser.


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Eu, Feminista

Texto autoral sobre minha relação com o feminismo.